A Defesa em Ações Penais de Violência Doméstica: Um Olhar Sobre a Resposta à Acusação

O sistema de justiça criminal é um campo complexo, especialmente quando os fatos se originam de conflitos familiares. Nesses cenários, a atuação da defesa técnica desde os primeiros momentos do processo é um pilar para a garantia de um julgamento justo e para o pleno exercício do direito à ampla defesa, previsto na Constituição Federal. Um dos instrumentos mais importantes nessa fase inicial é a Resposta à Acusação.
Este artigo tem como objetivo esclarecer, de forma informativa, o que é esta peça defensiva e quais teses podem ser nela articuladas, notadamente em casos de lesão corporal no âmbito doméstico, sem a intenção de analisar casos concretos, mas sim de prover conhecimento jurídico útil ao cidadão.

O Que é a Resposta à Acusação?

A Resposta à Acusação, prevista nos artigos 396 e 396-A do Código de Processo Penal, é a primeira manifestação formal da defesa após o recebimento da denúncia (a peça acusatória do Ministério Público) pelo juiz. É neste momento que o acusado, por meio de seu advogado, apresenta suas primeiras teses, contrapõe-se aos fatos narrados pela acusação e indica as provas que pretende produzir ao longo da instrução processual.
O principal objetivo da Resposta à Acusação é buscar a absolvição sumária do acusado. Isso ocorre quando a defesa demonstra, de plano, a existência de alguma causa que exclui o crime, a punibilidade, ou quando o fato narrado evidentemente não constitui crime. É uma oportunidade crucial para encerrar a ação penal de forma antecipada, evitando o desgaste de um longo processo.

A Tese da Insuficiência Probatória e a Ausência de Justa Causa

Um dos pilares do Direito Penal é o princípio da presunção de inocência, segundo o qual ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Dele, decorre o entendimento de que o ônus da prova cabe inteiramente à acusação. Para que uma ação penal seja válida, é preciso que haja justa causa, ou seja, um lastro probatório mínimo que indique a materialidade (a prova da existência do crime) e a autoria delitiva.
Em muitos casos decorrentes de conflitos interpessoais, como os de violência doméstica, é comum que a acusação se baseie unicamente na palavra da vítima. Embora relevante, essa palavra, quando isolada nos autos e não corroborada por outras provas — como depoimentos de testemunhas isentas, laudos periciais conclusivos ou outros documentos —, pode revelar uma fragilidade probatória. A defesa técnica atua para demonstrar ao Judiciário que a ausência de um conjunto probatório sólido torna a acusação temerária e impede o prosseguimento do processo, configurando constrangimento ilegal ao acusado.

A Análise do Elemento Subjetivo: O Dolo de Lesionar (Animus Laedendi)

O crime de lesão corporal exige, para sua configuração, a presença do dolo, que é a intenção livre e consciente de ofender a integridade física ou a saúde de outra pessoa (animus laedendi). Em contextos de discussões acaloradas e conflitos familiares exaltados, nem toda agressão física configura, necessariamente, o crime de lesão corporal dolosa.
É papel da defesa analisar a fundo as circunstâncias do fato para verificar se a conduta do agente foi realmente movida por essa intenção específica. Muitas vezes, a ação pode ter ocorrido no chamado “calor da emoção”, em meio a um tumulto generalizado, ou até mesmo como uma tentativa de contenção. A ausência do dolo de lesionar pode levar à atipicidade da conduta para o crime de lesão corporal, resultando na absolvição ou na desclassificação para uma infração de menor potencial ofensivo, como as vias de fato.

A Importância de uma Defesa Técnica e Individualizada

Cada caso criminal é único e demanda uma estratégia defensiva personalizada. A análise aprofundada do inquérito policial, a verificação da legalidade das provas produzidas e a correta argumentação jurídica sobre as teses aplicáveis são fundamentais. A atuação de um advogado especialista desde o início da persecução penal assegura que os direitos do acusado sejam respeitados e que a defesa mais efetiva seja construída.
Este artigo possui caráter exclusivamente informativo e não substitui a consulta a um advogado. Se você responde a um processo criminal, é fundamental buscar o auxílio de um profissional especialista para garantir que seus direitos sejam plenamente exercidos.
Felipe Medeiros Advocacia