Empréstimo Consignado: Conheça Seus Direitos e Proteja-se de Práticas Abusivas

O empréstimo consignado é uma modalidade de crédito amplamente conhecida e utilizada no Brasil, especialmente por aposentados, pensionistas, servidores públicos e trabalhadores com carteira assinada. Sua principal vantagem reside nas taxas de juros mais baixas em comparação com outras formas de crédito pessoal, uma vez que as parcelas são descontadas diretamente da folha de pagamento ou do benefício, o que reduz o risco de inadimplência para a instituição financeira. Contudo, o que deveria ser uma ferramenta para auxiliar na organização financeira pode, em muitos casos, se transformar em uma fonte de grande dor de cabeça devido a práticas abusivas e ilegais por parte de alguns bancos.
Este artigo tem como objetivo informar você, consumidor, sobre seus direitos e alertar para as armadilhas mais comuns nesse tipo de contratação. O conhecimento é a sua maior ferramenta de defesa.

A Negativa Injustificada e a Troca por um Empréstimo Mais Caro

Um dos primeiros abusos que podem ocorrer é a recusa do banco em conceder o empréstimo consignado, mesmo que você cumpra todos os requisitos. Muitas vezes, a instituição financeira apresenta desculpas infundadas, como falsas políticas internas da sua empregadora, para negar o seu direito. Em seguida, como “única alternativa”, oferece um empréstimo pessoal com juros significativamente mais altos.
É importante saber que, se você tem margem consignável disponível e atende às exigências, a recusa arbitrária seguida da oferta de um produto mais oneroso pode configurar má-fé. Pior ainda é quando o banco, mesmo sem conceder o crédito, bloqueia a sua margem consignável, impedindo que você procure outras instituições financeiras. Essa prática é ilegal e cria uma situação de refém, forçando o consumidor a aceitar condições desvantajosas.

A Armadilha da Venda Casada

A venda casada é uma prática expressamente proibida pelo Código de Defesa do Consumidor (art. 39, I), mas que infelizmente ainda ocorre com frequência. Ela se caracteriza quando o fornecedor condiciona a venda de um produto ou serviço à aquisição de outro.
No contexto dos empréstimos, isso geralmente acontece com a inclusão de um seguro prestamista não solicitado no contrato. O argumento utilizado para justificar a cobrança é, muitas vezes, enganoso, como a promessa de que o seguro irá “reduzir a taxa de juros”. Na realidade, o valor do seguro é embutido no montante total financiado, fazendo com que você pague juros sobre um valor que não recebeu de fato. Fique atento: a contratação de qualquer seguro deve ser uma opção sua, e não uma imposição.

Fraudes em Documentos e o Uso Indevido da Conta-Salário

Práticas ainda mais graves envolvem a manipulação de informações e documentos. Já foram observados casos em que o banco, para mascarar a operação de empréstimo pessoal, realiza um registro falso na Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital) do cliente, como se a operação fosse de crédito consignado. Tal ato, além de ser uma fraude, mancha um documento personalíssimo do trabalhador e consolida o bloqueio indevido da sua margem.
Outro ponto de atenção crucial é a proteção da sua conta-salário. Essa conta é destinada exclusivamente ao recebimento de verbas de natureza alimentar e, por lei, é impenhorável. Os bancos são proibidos de utilizar a conta-salário como garantia para empréstimos comuns ou de realizar débitos automáticos de parcelas sem a autorização expressa e consciente do consumidor. A apropriação do salário para quitar dívidas dessa forma é uma violação direta à sua dignidade e ao seu sustento.

O Que Fazer se Você For Vítima de Abusos?

Se você passou por alguma das situações descritas, é fundamental agir para proteger seus direitos. A tabela abaixo resume os passos recomendados:
Passo
Ação
Detalhes
1
Reúna Provas
Guarde todos os documentos relacionados à operação: contratos, extratos, e-mails, números de protocolo de atendimento e qualquer outra comunicação com o banco.
2
Reclame nos Canais Oficiais
Registre reclamações formais na Ouvidoria do próprio banco, no Banco Central do Brasil (BACEN) e em plataformas de defesa do consumidor, como o Consumidor.gov.br.
3
Busque Orientação Jurídica
Um advogado especializado em Direito Bancário e do Consumidor poderá analisar seu caso detalhadamente, identificar todas as ilegalidades e orientar sobre as medidas judiciais cabíveis.

Conclusão

O acesso ao crédito é um direito importante, mas deve ser exercido com segurança e informação. As instituições financeiras têm a obrigação de agir com transparência, lealdade e boa-fé. Práticas como a recusa injustificada do consignado, a venda casada, fraudes documentais e o uso indevido da conta-salário são ilegais e podem gerar o dever de indenizar o consumidor por todos os danos sofridos, sejam eles materiais ou morais.
Se você se identificou com as situações descritas neste artigo ou tem dúvidas sobre o seu contrato de empréstimo, não hesite em procurar assessoria jurídica qualificada. A defesa dos seus direitos começa com o conhecimento e a atitude de não aceitar abusos.
Este artigo tem caráter puramente informativo e não substitui a consulta a um advogado. Para mais informações, visite .